Meu precipicio

E eu penso que acabou. A guerra acalmou, o momento passou, a

bomba esfriou. Chego em casa e a luz se acende. Minha mãe 

chora no chão, pega minha mão e diz que nem tudo na vida é

um mar de rosas. Seus soluços me assustam de tão fortes que

são. Meu pai se apóia no corrimão da escada.", pois esta fraco 

e não se agüenta em pé, nas varetas chamadas de perna. E é como 

se ele tivesse se alarmado e levantado da cama que a dias não

deixa, num impulso que deixou seu coração na cama.O que houve?

Pergunto em um múrmuro. Mas não obtenho exatamente uma resposta.

Entre os soluços desesperados, minhamãe pede minha ajuda para

se levantare diz que estamos indo embora.Não entendo mais 

obedeço sem dizer nada. Corro ao meu quarto e só pego o meu

confidente e volto a correr escada abaixo. No meio dela, meu

pai branco e fraco se recupera e diz: "lamento por ter sido

desta maneira." Logo depois vou para o carro preto de minha

mãe e olho pela ultima vez pra trás. Olho os lábios do meu

pai que dão razão a ninguém. Minha mãe acelera. Ela ainda 

chora feito uma condenada, mas passa uma de suas mãos na 

perna esquerda. Um roxo amarelado pequeno é o que vejo na

região. "mais que diabos aconteceu enquanto eu dormia?" 

No dia seguinte, minha mãe me conta o que houve.Sentada

na sua cama, ela me explica que por causa da minha Irma,

meu irmãocom a metade de sua idade e o dobro de sua força

e tamanho lhe meteu um chute descalço na perna. "e qual é

a justificativa de tal brutalidade?" pergunto. E ao invés

de resposta, vejo uma imagem que me marcou. Minha mãe saindo do

quarto mancando, com um roxo que se estende do joelho até o pé, talvez dois

vazinhos estourados na perna por causa de um mal feito do meu irmão.E esse

é o meu Precipício. Do qual tenho medo de cair. Do qual tenho medo de me 

aproximar de novo.